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Encurralados na ponte





Em novembro de 1974, voltei definitivamente a Belém, depois de ziguezagues entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Com uma ideia na cabeça: fazer um jornal alternativo e independente. Uma publicação inspirada no suplemento Bandeira 3, que fizemos em A Província do Pará, entre 1971 e 1972, e no Jornal Pessoal, uma página dominical que mandei semanalmente de São Paulo, entre 1973 e 1974, primeiro para a Província, depois para O Liberal.


Deveria ser um jornal tabloide semanal, feito por uma equipe, com publicidade e indo para as bancas disputar mercado. Para isso, precisava de uma boa distribuição. A melhor que poderia ter era a da Albano, uma empresa tradicional, séria e competente, que, infelizmente, foi arrastada para o fim pela crise da Editora Abril, cujas publicações distribuía no Pará, já na terceira geração da família. Conversei com os irmãos Albano (recentemente falecido) e Alberto. Um funcionário da distribuidora, Paulo Roberto Ferreira, acabou fazendo parte da redação do novo Bandeira 3, estreando no jornalismo (como o Elias, meu irmão, o – infelizmente tão breve – Haroldo Mello, não tenho certeza se o Walter Pinto e outros mais).


O jornal só durou sete edições, mas Paulo se tornou uma das boas revelações do jornalismo, no qual permanece até hoje, passados quase 45 anos dessa experiência, da qual resultou, para mim, uma tosse nervosa, da qual nunca mais me livrei, e uma dívida pesada, que, felizmente, consegui pagar. E, é claro, uma memória imorredoura, junto com algum aprendizado e excelentes amigos.


Ontem, Paulo Roberto veio aqui em casa para me trazer seu mais recente livro, publicado neste ano pela editora Paka-Tatu, do historiador (e amigo) Armando Alves: Encurralados na ponte – O massacre dos garimpeiros de Serra Pelada (203 páginas). Para minha surpresa, a foto da capa do livro é uma das muitas que tirei em Serra Pelada, hoje no Acervo H, a agência de fotografia do amigo e grande fotógrafo, Paulo Santos, a quem doei os negativos que sobraram das minhas viagens em matérias especiais que fiz por toda Amazônia desde que comecei no jornalismo, em 1966 (a primeira viagem foi a Muaná, na ilha do Marajó, para cobrir um surto de malária, que atingiu toda população da cidade e arredores.


Paulo dedica seu livro a Expedito Ribeiro de Souza, “lavrador, poeta e líder sindical, mineiro de Governador Valadares, assassinado por pistoleiros em Rio Maria, sul do Pará, em 02/02/1991”. Fui amigo e admirador de Expedito. Fiz o prefácio do livro de poesias dele, publicado postumamente, graças a Raul Navegantes e Jean Hébette, imenso amigo que se foi.


Tantas histórias, tantos personagens. Vou ler o livro, Paulo.



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