Às pressas (Série Cenas Amazônicas)

Em ÀS PRESSAS vibram inquietações, esperanças, jornadas entrelaçadas, “a sala de aula é mesmo uma fronteira: o lugar de desencontro do humano”. Estamos diante de uma escrita que reflete sobre as cidades amazônicas e a sala de aula na dimensão necessária de se pensar as pessoas em suas várias formas de enfrentamento dos processos de colonização e exclusões ainda em curso.
 
Ela era a filha mais nova daquela família, a caçula, a única que pôde seguir os estudos, os outros irmãos abandonaram a escola cedo, nem terminaram o ensino fundamental. Aquela casa e as vidas que passaram por ela foram sempre conduzidas pelas mulheres, ora por sua avó, ora por sua mãe. Foi com a avó e suas memórias que ela conheceu as histórias familiares. Ficava surpresa com a riqueza de detalhes que a matriarca contava. Os miúdos da vida dos Silva foram preservados graças à força da oralidade da vó Maria.
 
Outra camada fecunda do livro de Tiese Teixeira Júnior é a Memória. Várias personagens, mesmo diante do silêncio que circula pelas vizinhanças e sempre à espreita para calar vozes e corpos, “tomam a palavra para relatar que as suas histórias não nasceram de um projeto do governo ou algo do tipo”, são ações em busca da terra como lugar de morada e de trabalho. Com a lavoura nas mãos e nos rostos, lemos o livro e caminhamos com mulheres nascidas de um roçado “onde hoje é o seu centro comercial”. Memórias da terra, memórias de cicatrizes e costuras em busca de justiça social. Memórias de mulheres que, em suas diversas particularidades, reelaborando dores e resistências, seguem a erguer cidades amazônicas.
 
 
                                                                                                              DANIEL DA ROCHA LEITE